quarta-feira, 23 de junho de 2010

Pra onde foi a criatividade? Cadê o teto com desenhos em autorelevo que me prendiam a atenção por tantas horas, só consigo ver a bagunça e me estressar pela rotina. Sinto falta daquele cigarro comunitário. Sinto falta de coisas que ainda nem vivi. Perambulando pela casa o taco frio sob meus pés, destruídos, tanto tempo que não se encontram com uma pedicure. Um encontro muito necessário.
Suspiro profundamente como se nada fosse aquietar o vazio. Isso me intriga, como pode o vácuo e a falta momentânea de qualquer coisa pode ser tão esquisito e incômodo. A única vontade é de que passe e a saudade daquele cigarro. Até que qualquer mais profundo desejo é tomado de assalto por tremores, batidas na parede e gritarias. O que de início se parece com um cachorro latindo logo se revela, são eles.
Saí, já que não tenho companhia aqui, posso ir atrás de uma. Procurei em todos os lugares, no ônibus, nos bares, nas livrarias e restaurantes. Estranhamente os lugares estavam vazios, as pessoas sumiram. Não quero recorrer à companhia de meus vizinhos fornicadores.
Sentar na praia poderia ser uma boa alternativa, mas essa também não estava mais lá, senti um leve desespero, minha casa também deve ter sumido. Corri de encontro a minha rua, tentei correr mas a asma me impediu que chegasse rapidamente, parei e sentei, estava tonta já. Se minha casa fosse sumir mesmto, não adiantaria de nada correr, relaxei e caminhei de encontro com o espaço vazio que costumava ser chamado de lar. Procurei pelo meu ipod, que descobri também ter sumido, mas de forma esquisita a música que estava na minha cabeça começou a tocar, o fundo branco tinha som. Caminhei por muitas horas e percebi que poderia ter passado direto de onde era meu prédio, não tinham mais pontos de referência, Centro de Doenças Cardiovasculares, Clube, Padaria ou Lamole, nada mais estava ali. E Time Falls tocava repetidamente, pensei que já poderia estar no final de São Francisco, em Jurujuba até que não teria percebido. Poderia estar sem minha roupa e não teria me incomodado.
Parei, deitei, contemplei. O nada é confortante durante alguns segundos, quem sabe até um minuto. Depois passa a ser um tanto solitário. Sei que não vem ninguém me buscar, sei que ninguém irá me procurar. Será que aqui ainda terá dia e noite? Não aguento mais a claridade. Eu bem que poderia pintar tudo de preto, poderia surgir uma tinta do meu lado e eu pintar tudo! Mas também quero tinta branca, pra fazer as estrelas, amarelo meio creme pra pintar a areia, o cinza pra calçada bancos e alguns prédios, verde para as árvores e outros prédios, azul pro céu e pro mar, vou tentar improvisar algumas pessoas com as cores que tenho. Quero vermelho, não sei bem ainda para o que, acho que vou pintar meu coração também.

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